domingo, 8 de fevereiro de 2009

Curso de História da Arte

Pra quem gosta de arte, mas não tem dinheiro para custear um curso de história da arte, o MASP oferece esse curso introdutório gratuitamente, todos os primeiros sábados do mês.

http://masp.art.br/servicoeducativo/cursointrodutorio.php

CURSO INTRODUTÓRIO À HISTÓRIA DA ARTE A PARTIR DA COLEÇÃO DO MASP

Orientação: Professor Renato Brolezzi, e a participação de Paulo Portella Filho, coordenador, Christina Guarinello A.Moreira Marx e Luciano Rodrigues,assistentes de coordenação.

Voltado para professores de arte e educadores em geral, o curso oferece uma introdução à cultura figurativa ocidental a partir da análise de obras escolhidas da Coleção do MASP. Oferecido uma vez ao mês – de fevereiro a dezembro, à exceção de Julho - constitui-se no principal apoio conceitual do museu ao professor interessado em futuras parcerias de trabalho com o Serviço Educativo.

Para participar não há necessidade de inscrição prévia: o interessado deve dirigir-se ao museu no dia da aula, pelo menos 30m minutos antes do seu inicio.

Cada participante recebe um certificado pela sua freqüência, e este lhe garante a retirada, logo após a aula, de um convite para visitar o museu e a obra estudada. Com o certificado o participante também poderá ter descontos especiais em compras na Loja do Museu e no Restaurante do MASP.

Os que assim o desejarem participarão, logo após a aula, de uma atividade de avaliação de aproveitamento na aula, com direito a certificado correspondente.

No dia da aula, das 14 às 17h00 a Biblioteca e o Centro de Documentação do MASP ficam abertos excepcionalmente - mediante agendamento no próprio dia - a consultas dos participantes da aula.

Programa 2008

09 DE FEVEREIRO
A Virgem em Lamentação, São João e as Pias Mulheres da Galiléia, de MEMLING

01° DE MARÇO
A Virgem com o Menino em Pé (Madonna Willys), de GIOVANNI BELLINI

05 DE ABRIL
Virgem com o Menino, São João Batista Criança e um Anjo, de PIERO DI COSIMO

10 DE MAIO
O Banho de Diana, de FRANÇOIS CLOUET

07 DE JUNHO
Oficial Sentado, de FRANS HALS

02 DE AGOSTO
Drinkstone Park (ou O Bosque de Cornard), de GAINSBOROUGH

06 DE SETEMBRO
A Educação Faz Tudo, de FRAGONARD

04 DE OUTUBRO
A Banhista e o Cão Grifon (Lise à Beira do Sena), de RENOIR

01° DE NOVEMBRO
O Grande Pinheiro, de CÉZANNE

06 DE DEZEMBRO
A Compoteira de Peras, de LÉGER

Sábados das 11h00 às 13h00
Grande Auditório do MASP - primeiro subsolo
370 vagas GRATUITO

Não há necessidade de inscrição prévia

Orientação: prof. Renato Brolezzi
Assistente de Coordenação do Serviço Educativo do MASP


Aula do Mês

FERNAND LÉGER
Argentan, Orne, 1881 – Gif-sur-Yvette, Seine-et-Oise, 1955




A Compoteira de Peras
Óleo sobre tela, 79 X 98 cm, 1923.
Acervo do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand MASP.

A Obra

A etiqueta no verso do quadro remete ao inventário da Galeria de Léonce Rosenberg onde a obra foi catalogada: “7959, Mars 1923, 20/3/23, Léger, Le compotieur aux poires, 81x100, ph.nº 471, 1500f”.O inventário cita um quadro ligeiramente maior (116 x 81 cm) com o mesmo título, hoje conservado no museu d’Art Moderne de Villeneuve-d’Ascq, ao norte da França. Há ainda uma outra variante (65 x 50 cm) citada por Bauquier, sob o número de 351, em seu catálogo raisonné da Obra de Léger.

O ano de 1923 foi importante pata Léger. Além de sua participação, juntamente com o escultor húngaro Csaky, no Salon des Indépendants, o artista escreveu um artigo notável: A estética da máquina: o objeto fabricado, o artesão e o artista, dedicado ao poeta russo Maiakovski, publicado na revista Querschnitt, em Berlim, e posteriormente, em janeiro de 1924, no Bulletin de L’Effort Moderne. Desenhou o cenário e os figurinos para La Création du Monde de Blaise Cendrars, com música de Darius Milhaud; realizou o cenário do laboratório do engenheiro para o filme L’inhumaine de Marcel L’Herbier. Léger, que já descobrira durante a guerra, as possibilidades estéticas da máquina, interessou-se pelo cinema apreendendo a poesia dos objetos fragmentados, estudando-os em várias naturezas-mortas nos anos de 1922-1923, até chegar à realização do filme Ballet Mécanique, em 1924. Os objetos adquirem tamanho monumental e tornam o espaço do quadro dinâmico, rimado por geometrias coloridas (Andral 1998).

A tela do MASP fazia parte da coleção de Olívia Guedes Penteado, animadora do modernismo em São Paulo. Olívia Guedes Penteado adquiriu o quadro em Paris, em 1923, talvez orientado pelo amigo e poeta Blaise Cendrars, que esteve várias vezes no Brasil entre 1924 e 1934, estabelecendo relações com o grupo de modernistas. A aquisição pode também ter sido uma sugestão da pintora Tarsila do Amaral, grande admiradora da obra de Léger.

Segundo Aguillar (1991, p.89), “a maneira de criar profundidade sem abandonar o plano já está implícita nos Contrastes de Formas, de 1912, que tanto impressionaria o cubo-futurista Malévitch”.

O Artista

Nascido em uma família de criadores de gado na zona rural da Normandia, Léger, artista reputado inculto, dizia-se com orgulho ”de raízes camponesas”. Na realidade, não apenas por sua arte, prolífica em diversas mídias, mas também por seus ensinamentos e escritos, centrados nas relações entre arte e sociedade, exerceu, na primeira metade do século, uma influência superada por poucos. Entre 1897 e 1899, após concluir o grau médio, Léger emprega-se como aprendiz em um escritório de arquitetura, em Caen. A experiência prolonga-se no ano seguinte, já então em Paris. Sobrevém o serviço militar, terminado em 1902 em Versalhes, onde o artista convive, talvez com proveito para o desdobramentos ulteriores de sua sensibilidade, com um corpo de engenheiros. É então admitido na École des Arts Décoratifs, após ter sido recusado pela École des Beaux-Arts. Seus estudos são dirigidos por Jean-Léon-Gérôme e Gabriel Ferrier (1847-1914), mas Léger segue simultaneamente as sessões da Académie Julien e visita o Louvre, além de se manter como desenhista de arquitetura e retocador de fotografias comerciais. Divide então um apartamento com André Marc (1885-1932), com quem manterá uma intensa correspondência artística até os anos 20. Iniciam-se os anos de maior efervescência de Montparnasse, sob o impacto do Fauvismo e da exposição retrospectiva de Cézanne no Salon de Automne de 1907. As primeiras obras de Léger absorvem fielmente o clima do momento e em especial do seu habitat imediato, como no La Ruche, no qual o artista entabula relações com Delaunay, Chagall, Soutine e Lipchitz, além de poetas como Max Jacob, Apollinaire, Raynal e especialmente Cendrars, que lhe dedica o poema programático Construction. É ainda sob o signo de tais encontros que Léger expõe no Salon d’Automne em 1909, onde as vanguardas convulsionam a arte com uma nova onda de choque através de obras fundamentais de Brancusi, Duchamp, Picabia, Gleizes, La Fresnaye, Metzinger e outros. No ano seguinte, sua inserção nas pesquisas de vanguarda traduz-se por sua participação no Section d’Or, movimento nascido no ateliê de Jacques Villon, em Puteaux e do qual participaram também Delaunay, Gleizes, Metzinger e Le Fauconnier. Ainda em 1910, Kahnuweiler inclui-o no rol dos artistas de sua galeria, após Picasso e Braque, e em 1912 dedica-lhe uma primeira exposição individual. Léger participará neste mesmo ano de outra não menos célebre exposição intitulada “Valete de Paus” (Valet de Carreau), organizada por Malévitch em Moscou. A adesão de Léger ao cubismo é, contudo parcial, pois é mediada pela peculiaridade de manter e mesmo realçar as formas volumétricas, além de tangenciar apenas fugazmente a abstração. Sucessivamente, e esta é outra forma de dessemelhança com Braque e Picasso, Léger inicia uma intensa teorização sobre seus partidos estéticos, consignados em conferências e ensaios e reunidos em três obras principais: L’esthétique de la Machine (1923), Le nouveau réalisme continue (1936) e La couleur de l’arquitecture (1946).

Nos anos de 1913 e 1914, o artista dá conferência na Academia Wassilieff de Berlim, na qual anuncia o princípio fundamental de sua estética: “a intensidade de contrastes” de cores e formas, princípio plenamente desenvolvido na série intitulada Contrastes de Formas (Paris, MNAM; Nova York, MOMA; Düsseldorf, KNW). De 1917 é monumental Partida de Cartas, reflexo de sua experiência no front em Verdun, onde uma bomba de gás o atinge quase mortalmente, obra que conclui suas pesquisas próximas à abstração e marca o retorno definitivo à figura.

“Cada artista possui uma arma ofensiva que lhe permite brutalizar a tradição. Em busca do espetáculo e da intensidade, eu me servi da máquina, como a outros ocorreu empregarem o corpo nu ou a natureza-morta”. Assim inicia-se o artigo de Léger, intitulado L’esthétique de la Machine: l’ordre géométrique et le vrai (apud Kosinsky 1994, p. 121), proclamação de uma démarche que será peculiar ao pintor nestes anos: o entusiasmo pela temática e pelas novas formas de inserção da máquina “no ritmo da vida moderna”. Em obras como Éléments Mécaniques (1918-1923, Basiléia, Kunstmuseum), cujo título é retomado em uma tela de 1924, hoje no MNAM de Paris, a linhagem dos contrastes formais exprime-se no dizer de Kosinsky, “entre les élements linéaires d’um noir nettement découpé et les zones de couleur pure. “A autora enfatiza em seguida aa importância do cinema na poética de um mundo maquinizado de Léger, revelada no “filme sem roteiro ”Le ballet mécanique, criado pelo artista em 1924 a partir da música de Georges Antheil e montado em colaboração com Gerald Murphy e Man Ray. A estética dos fragmentos de objetos industrializados que compõem a vida cotidiana, a intensa cacofonia da cidade moderna, a justaposição de faces luminosas de cor pura, de letras, de ícones da galopante invasão do aço na paisagem urbana, tais são os elementos e a temática que Léger combina e reelabora em sua pintura.

Para o pavilhão do Esprit Nouveau da Exposição de Artes Decorativas em Paris, em 1925, Léger realiza grandes composições que marcam sua primeira contribuição ao muralismo, desenvolvido ulteriormente na Exposition Universelle de 1937, no Palais de la Découverte. A primeira metade dos anos 20, período em que nascem naturezas-mortas marcadas por poéticas de grande pureza compositiva, tais como as do MNAM de Paris (1922) e do MASP (1923), é seguramente, no percurso do artista, seu período “clássico”, o momento de maior equilíbrio, maturidade e mestria de sua poética.

L. Migliaccio, L. Marques

Texto extraído do Catálogo do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand: Arte Francesa Coordenação geral: Luiz Marques São Paulo, Editora Prêmio, 1998


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