terça-feira, 4 de dezembro de 2007
Palacete Santa Helena
Inspirado pelo post do blog do Mílton Jung da CBN, que por sua vez foi baseado em uma discussão da lista do pessoal do Preserva SP, reproduzo abaixo reportagem da Folha do ano de 2003 sobre o Palacete Santa Helena.
Na tarde de 23 de outubro de 1971, o operário paulistano perdeu a referência; a arte proletária, o teto; a cidade, simbolicamente, uma vocação econômica. Depois de 117 dias de marretadas, o Palacete Santa Helena virou pó.
Inaugurado 46 anos antes, o imponente prédio era o símbolo de uma São Paulo que deixava de ser colonial e passava por um processo de industrialização.
Marco do processo de verticalização urbana, o Santa Helena foi durante anos a principal silhueta do centro --a despeito da famosa catedral na mesma praça da Sé.
O conjunto, com cinco blocos e sete andares, comportava duas sobrelojas, dois cinemas, quatro lojas e 276 salas multiuso. De arquitetura eclética com influência do art déco, sua decoração interna era refinada, com mármores.
Apesar de ter sido construído pela e para a elite paulistana, a localização central o transformou no ponto de encontro dos operários, que vinham dos bairros mais pobres, como o Brás e a Mooca.
Ao lado dos finos salões, cafés, cinemas e do teatro, eles fundaram as sedes de seus sindicatos.
Assim, a Sé, já na virada dos anos 30, tinha se tornado um mercado do emprego. Quem quisesse um marceneiro ou um metalúrgico sabia onde procurar.
A partir de 1935, a sala 231 foi convertida em ateliê, e o palacete abrigou um dos movimentos mais significativos da história das artes plásticas de São Paulo.
A iniciativa partiu do filho de espanhóis Francisco Rebolo Gonsales, ex-jogador de futebol e pintor de paredes, que viria a se tornar um dos mais reconhecidos artistas do Brasil (é dele o desenho do atual distintivo do Corinthians).
A ele se uniu, entre outros oito pioneiros, o também pintor de paredes Alfredo Volpi. Surgia o Grupo Santa Helena. Os "artistas proletários", nas palavras do escritor modernista Mário de Andrade. Da janela, eles avistavam a dinâmica do centro e encontravam inspiração para retratar em suas telas a vida operária.
"A novidade era a aproximação com uma linguagem da modernidade, com um olhar para o social", conta Lisbeth, filha de Rebolo. O grupo, diz, tinha um relação quase umbilical com o edifício.
O cordão, no entanto, foi cortado à medida em que São Paulo confirmou sua vocação de pólo de serviços e exilou as fábricas para cidades vizinhas --longe dos problemas urbanos do centro e favorecido por benefícios fiscais, o setor industrial rumava ao ABC.
O Santa Helena ruiu pelo abandono e cedeu ante o "progresso". Foi destruído para que se construísse a estação central do Metrô.
Hoje, as cerca de 640 mil pessoas que passam diariamente pela estação não encontram nenhum vestígio do antigo palacete.
O número de paulistanos à procura de emprego supera os 2 milhões, menos do que o 1,5 milhão de vagas que uma indústria zumbi ainda oferece na cidade. Mas a praça que um dia oferecia mão-de-obra parece mais vazia.
"Foi uma infelicidade. Não só seria possível manter o Santa Helena, como resgatar seu papel", afirma Wilson Ribeiro dos Santos Júnior, do Conselho de Preservação do Patrimônio Artístico, Histórico e Cultural do município.
Já para Sérgio Salvadori, atual diretor de engenharia do Metrô, a demolição foi inevitável. "Uma estação do tamanho da da Sé não caberia ali." E completa: "Naquela época não havia cultura de preservação. Era o sai da frente que queremos construir outro país".
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Um comentário:
Robson,
Legal seu comentário sobre o PreservaSP.
Estamos aí na luta para resgatar cidadania e muitas das edificações que fazem parte da história da cidade.
Em tempo, se puder divulgar nosso site no seu blog, será de grande valia.
Abraços,
Hélio Bertolucci Jr.
www.preservasp.org.br
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